@dolescendo: Traições "virtuais" podem ser "reais"Por seis meses ela sofreu quieta na frente do computador. Sílvia (nome fictício) estava "viciada" em fuçar o Orkut do cara com quem estava saindo. "Entrava na página dele mais de 15 vezes ao dia", diz ela, que estava apaixonada. "Chegava a sentir vergonha de ficar vigiando a vida dele, eu sabia que aquilo era uma piração." Criados para unir pessoas, os sites de relacionamento, como o Orkut, também causam brigas e separações. Os recados, que podem ser lidos por qualquer internauta que visite a página da pessoa, expõem a intimidade dos participantes e nem sempre são bem interpretados. Mesmo sabendo que aquilo a faria sofrer muito, Sílvia passava horas lendo os recados (scraps) de garotas no Orkut dele. "Ele dava o telefone para outras mulheres, marcava encontros", conta. Para acabar com o seu sofrimento, ela resolveu se "suicidar" no Orkut, isto é, apagar seu perfil do site. Procurou uma psicóloga, com quem está fazendo terapia. "Hoje sei que tudo isso era reflexo de minha insegurança", avalia. "Na minha frente, ele era uma pessoa, no Orkut era outra." Rita Scauri, integrante de sites de relacionamento, acha que muitas pessoas buscam na Internet algo que está faltando na sua vida. "É o princípio do fim do relacionamento real", comenta. Há muitas comunidades dedicadas a discutir as brigas causadas nos sites de relacionamentos como O Orkut me dá crise de ciúmes, com 10.683 integrantes. "As pessoas têm a ilusão de que conhecem totalmente o companheiro e se irritam quando o site de relacionamento revela coisas que elas não sabiam", analisa a psicóloga Luciana Ruffo. "Se houver insegurança é preciso cuidar disso, senão um vai começar a fiscalizar a vida do outro, vasculhando a toda hora as páginas de recados e desconfiando de tudo." A estudante Luana Lopes Vieira, de 20 anos, monitora os recados do Orkut do seu namorado, o estudante Aloysio Novaes Rauber, de 20 anos. O casal está sempre em pé de guerra por causa das mensagens. "Já perdi a conta de quantas vezes já discutimos", diz. "Não são brigas graves, mas são constantes." Apesar de não ver muita graça no Orkut, Luana nem pensa em sair do site. "As amigas dele vivem colocando scraps melosos, o que me irrita e causa desconfiança", diz. "Sairia do Orkut se ele saísse também, mas sei que isso não vai acontecer." Recados virtuais põem amor à prova No seu perfil do Orkut, a operadora de televendas Samara Jablonski, de 18 anos, divulga que é casada, apesar de não ser. Isso para evitar mensagens carinhosas, que incomodam seu namorado, Roberto Cardoso, de 24 anos. "Ele reclamou que meus amigos não estavam respeitando meu namoro e que, se eu não tomasse uma atitude, nos separaríamos." Assim como Samara e Roberto, muitos casais estão se desentendendo por causa dos sites de relacionamento. Um simples recado brincalhão no Orkut trouxe problemas para a consultora de Internet Denise (nome fictício). "Aê, fez sucesso com os cadetes", escreveu uma amiga após o baile de formatura. O namorado de Denise, que mora na Alemanha, se irritou com a mensagem. "Ele achou que eu tinha aprontado todas", diz. Quando ele conheceu o Orkut, ficou horrorizado com o número de homens da lista de amigos dela, embora a maioria fosse de colegas de trabalho. O comerciante Lucas Rocha lamenta que um recado no Orkut tenha estragado uma grande amizade. "Escrevi, sem maldade, que amava minha amiga", conta. O namorado dela ficou furioso. "Quase saímos na mão." Lucas se arrependeu de ter mandando um recado tão íntimo pelo Orkut. "Todo mundo que leu a mensagem entendeu errado", lamenta. Mas a desconfiança nem sempre é paranóia. A estudante Juliana Medeiros, de 20 anos, viajou à revelia do namorado. Depois de alguns dias, quando parou num ciber café para deixar uma mensagem para ele, viu que ele estava trocando recados com outra garota. "Depois de muita pressão, ele confessou que estava saindo com ela", diz. "O Orkut é aquele seu amigo fofoqueiro, que te conta tudo. " Ciúme no Orkut pode acabar em "suicídio" Quando estava visitando a página de recados do Orkut do seu namorado, Michele de Oliveira topou com uma mensagem suspeita. "Eu te amo", declarava-se uma outra garota. O sangue de Michele ferveu e ela começou uma briga feia com o namorado, o técnico em elétrica Rodrigo Merenda. Para dar fim às brigas, Rodrigo cometeu um "suicídio", ou seja, cancelou o seu perfil no Orkut. Mais tarde, o casal resolveu se reunir numa única identidade. "Mas perdi um pouco da privacidade", diz Rodrigo. Uma simples mensagem do tipo "Oi, tudo bem", publicada no Orkut do seu namorado, despertava ciúmes em Juliana Marim. "Por mais que não tivesse segundas intenções nos scraps das garotas, sempre dava uma pontinha de ciúmes", afirma ela, que namora o webdesigner Gregory Peres Serrão, de 20 anos. Eles resolveram, então, sair do Orkut juntos. Garantem que não sentem saudades do site. "O Orkut destrói relacionamentos", acusa Juliana. Alexandre Gonçalves também já cometeu "suicídio" no Orkut. Teve uma briga com a namorada por causa de um recado que deixou para uma amiga. "Era apenas uma brincadeira, mas ela achou que fosse um 'xaveco'", conta. Dois meses após o "suicídio", Gonçalves voltou ao Orkut. Mas adotou uma nova atitude. "Tomo mais cuidado quando escrevo e quando leio um scrap", diz. "É mais difícil se expressar pela linguagem escrita e, por isso, há muitos mal-entendidos." Na busca da paz, há casais que acham que vale até revelar a senha. É o caso dos estudantes Renata Torres, de 18 anos, e Carlos Roberto Bessa Filho, de 21 anos. "Ele me deu a senha sem que eu precisasse pedir, afirmando que não tem segredo comigo", conta Renata, que também revelou a sua para Carlos. No controle do Orkut de Carlos, Renata já apagou uma amiga da lista. "Meu namorado já tinha ficado com ela antes de namorar comigo e eu me incomodava com os recados que ela mandava." Sem cuidar do ciúme, "suicídio" no Orkut não salva relacionamento Os sites de relacionamento são um assunto cada vez mais abordado nas clínicas psicológicas. "Inovações tecnológicas de todos os tipos introduzem transformações na vida das pessoas", afirma a psicóloga Solange Marcolin Gonçalves, que recebe clientes que costumam falar muito sobre o tema. Solange comenta que brigas de casais sempre existiram e vão continuar a existir, mas nos sites de relacionamento as pessoas passam a ficar mais à disposição, expostas a julgamentos e fantasias. "Novos espaços colocam em evidência novas regras de convivência", diz. Cada casal deve conversar e definir tais regras. Mas fornecer a sua senha do site de relacionamento para o companheiro não resolve os desentendimentos do casal, na opinião da psicóloga Luciana Ruffo. "Isso é uma invasão", afirma. "Com a senha alheia você tem a ilusão de ter controle, mas na verdade isso não soluciona a falta de confiança." O "suicídio" no site de relacionamento também não é a melhor saída para o casal que briga demais. "No começo, pode dar uma sensação de alívio, mas depois o problema reaparece de outra forma, já que o casal não tratou a causa", diz. | |
26 de out. de 2010
traições virtuais:
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RÊNATA .V. RÓS
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terça-feira, outubro 26, 2010
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