Dúvidas de Minha Alma:DEA

Dúvidas de Minha Alma

Dúvidas de Minha Alma


Da sacada de minha casa assisto a morte silenciosa de um domingo ensolarado. Que belo lugar para escrever , eu nunca havia notado, estranho isso, vivo aqui há tantos anos e tem lugares na minha casa que ainda desconhecia.

Mas confesso que por aqui tenho passado várias horas de meus dias. E quando possível passo por aqui as noites também, conto estrelas, dou a elas alguns nomes, estrelas para mim são como borboletas, tenho fascínio por elas. Sou capaz de perder horas a admirá-las. Perder horas? Não, ganhar horas, pois tantas coisas me dizem, elas que nada falam, e são conhecedoras de tantos segredos meus, que se falassem - Há meu Deus, o que diriam de mim as pessoas a quem contassem.
Mas segredos são assim, por isto tem este nome, os meus pertencem a mim, e a minhas amigas que não falam.
Mas nesta analogia que faço em meia poesia, conto agora o que me causa certa angústia nestes dias.
Assim como havia lugares em minha casa que eu até então desconhecia, decubro que existe em mim coisas que eu não sabia. E moro em mim há tantos anos que nunca achei ser possível haver em mim algo que desconhecia.
Mas tenho descoberto sentimentos, alegrias, sofrimentos,opiniões, contradições que nunca imaginei que em mim havia.
Tenho fugido de confrontos, me guardado em meus silêncios, mergulhado em sentimentos, coisas que antes não faria. Tenho também me entregue a algumas sensações, a momentos especiais, a lembranças tão queridas que me fazem sentir leve, sentir mais amor pela vida.
Tenho permitido sem medo que meu coração me comande, que diga o que quer de mim, sem impor a ele minhas regras e conceitos. Acho que a verdade era essa, fazia tanto tempo que eu não me visitava, que comigo não falava, que já tinha assumido opinões e conceitos como meus sem que nunca tenham sido.
Mas depois de muito tempo voltei pra dentro de mim, e aqui eu encontro um mundo desconhecido, vivem pessoas por aqui, alguns são meus amigos, também sobrevivem aqui alguns de meus desafetos, há os que sempre aqui moraram, meus grandes amores, as razões de minha vida. Mas hoje mora aqui também esse ilustre visitante, que nem sequer foi convidado para aqui fazer morada, foi chegando de mansinho e no meu coração fez o seu ninho. É só dele este cantinho, devo confessar que já tentei expulsá-lo, pedi para que saísse, mas meu coração não permitiu, resolveu (ele sozinho), que aqui vai hospedá-lo.
E só existe uma maneira de eu apagar da lembrança este morador inesperado, tenho que novamente fugir de mim, acabar com essas visitas rotineiras que venho fazendo a mim mesmo.
Quem sabe assim, se eu der a entender que não o noto, que não o vejo, que nem sei onde ele está, ele se sinta sozinho, e por não receber a atenção que está acostumado, com a qual tem sido presenteado, procure para si um outro ninho.
Eu até já pensei nisso, mas o que mais me assusta é o que farei com a marca que permanecerá em meu coração depois de sua longa permanência. E como vou viver quando voltar para dentro de mim e não encontrar por lá esse ilustre morador, e ver vazia sua morada.
Heis aí minhas angústias, meus medos, meus tormentos, sinceramente não sei bem o que fazer. Mas acho que o melhor a fazer agora é me manter em silêncio, me afastar um pouco de mim, e só voltar novamente quando o coração e a mente se entenderem enfim.